Cão Serra da Estrela


História

O Cão da Serra da Estrela é uma raça canina portuguesa que, como o seu nome indica, teve a sua origem nessa região montanhosa. Foi aí que os animais que lhe deram origem se fixaram e, após múltiplas adaptações, conseguidas em gerações sucessivas, foram ganhando as suas características próprias.A data do seu aparecimento, nos então denominados “Montes Hermínios”, não é possível de determinar. Sabe-se, contudo, que é uma raça muito antiga, das mais antigas da Península Ibérica.
O pedigree dos cães da Serra da Estrela, segundo se diz com algum sangue introduzido na sua criação, são criados em canis nos arredores de Gouveia.

Devido às variações de altitude, há, na Serra da Estrela, níveis de temperatura e de humidade diversos, que diversificam o seu revestimento vegetal, sendo este um local propício ao pastoreiro. É sabido que a sedentarização do homem nesses locais, onde a água e a vegetação abundavam, se situa na Época Medieval mas a sua utilização por ele, numa vida de pastor nómada, ao lado dos seus rebanhos, é muitíssimo mais remota. Há conhecimento de que ela é anterior ao nascimento de Cristo, pois, aquando da invasão da Península Ibérica pelos Romanos (século II a.C.) já havia pastores (os Lusitanos) que a essa invasão deram luta e que se refugiavam nas penedias.As dificuldades que os pastores tinham para defender os seus rebanhos seriam, certamente, imensas, até porque não podiam utilizar armas de fogo (pois elas ainda não tinham sido inventadas – a pólvora foi utilizada pela primeira vez, na Europa, em armas de fogo, no ano de 1346).Valia-lhes a ajuda de um animal que parece ter sido criado para complementar o homem – o cão (Canis Familiaris).

O cão, elemento da família dos Canídeos, é um animal de grupo (de matilha). No estado selvagem, os cães estabelecem, dentro dos grupos a que pertencem, fortes e bem determinadas relações sociais. Nas matilhas, há um chefe (um líder) e um espírito de interajuda e cooperação entre os seus elementos. O cão doméstico, devido à grande facilidade com que transfere essas ligações, passa a cooperar com o homem, como se cooperasse com outros cães. Assim, uma vez reconhecida a sua liderança, ele está pronto a obedecer-lhe e a ajudá-lo.

O “Cão da Serra da Estrela” acompanha o seu chefe, o seu dono, na guarda dos seus haveres, neste caso o rebanho de gado bovino e caprino. Não se sabe, ao certo, quais os animais silvestres que estes valorosos e valentes cães tiveram de enfrentar. Pensamos, até, que, possivelmente, terão tido como adversários os ursos, que, então, por lá existiam.

Debruçando-nos entre os séc. XIX e XX, podemos compreender o papel fundamental que o lobo (Canis Lupus Signatus) teve no desenvolvimento e aperfeiçoamento desta raça canina autóctone. Nesses tempos, era o lobo o maior predador que habitava a serra e o número deles que lá existia era respeitável. Foi contra um animal tão bom caçador e tão bem preparado fisicamente, como o lobo, que os exemplares desta raça tiveram de se defrontar. É certo que os pastores tentavam ajudá-los, colocando-lhes coleiras de bicos metálicos no pescoço, para dificultar as dentadas dos lobos nessa zona anatómica (tão exposta, tão vulnerável e tão vital), mas, mesmo assim, não seria, certamente, tarefa fácil, para os cães, terem de defender os rebanhos dos ataques desses carnívoros.

Para bem exercerem a vigilância que lhes era confiada eles tiveram de desenvolver certas características e comportamentos, de forma a poderem pressentir a presença, por perto, de lobos. Assim, a independência, que os animais desta raça gostam de ter, enraíza na forma como os seus antepassados faziam a guarda do gado. Eles procuravam, por sua iniciativa, sítios altos onde tentavam captar as feromonas (mensageiros químicos odoríferos transportados pelo ar) dos lobos. Se estes fossem detectados nas imediações, logo os cães tentavam proteger os rebanhos, mas de uma forma a não permitir que os carnívoros deles se aproximassem. Para esta forma de actuação, eles necessitavam de liberdade de acção, não podiam estar a cumprir estritas ordens do pastor. Esta sua forma comportamental faz com que alguns adestradores caninos digam que o “Cão da Serra da Estrela” é difícil de adestrar, pois parece ignorar as ordens e instruções que eles pretendem dar-lhe. O que, de facto, se passa é que os cães desta raça tentam sobrepor a sua vontade à do técnico. Este, para conseguir os seus intentos, não deve desistir e, com paciência, determinação e perseverança, deve continuar o ensino. Surgirá o momento em que o animal obedecerá e, a partir daí, esforçar-se-á por aprender o que se lhe quer ensinar e por cumprir o que lhe é ordenado.

Características

A beleza deste cão, a sua inteligência, lealdade e a robustez, são características que lhe permitem ser mais do que um excelente guarda: ele é também um bom cão de família e muito tolerante com as crianças. O seu pêlo áspero ajuda-o a sobreviver ao Inverno rigoroso da elevada altitude e dantes a sua força permitia-lhe defender os rebanhos dos lobos.

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